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A lógica do Papado está assentada numa palavra nem sempre lembrada pelos historiadores: as chaves. Quando Cristo fala em Mateus 16:9; “Eu te darei as chaves do reino dos céus e tudo que ligares na terra será ligado nos céus e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”, abre-se a porta da tradição pontifícia. A simbologia deste ato está caracterizada nas imagens de São Pedro sempre postas com uma grande chave na mão direita. Os brasões papais sempre fazem uso das chaves em cruz e a própria Basílica de São Pedro lembra uma chave. A narrativa em Mateus foi interpretada literalmente no cristianismo primitivo como um mandato real, sem dupla interpretação. Como resposta a esse mandato 264 homens passaram pelo trono de Pedro e reinaram sobre todas as cabeças da Europa e seus domínios. Interessante marcar que não se conhece na história uma instituição que sobreviveu ininterruptamente por tanto tempo. A plêiade de homens que assumiu esse cargo pode ser considerada, sem juízo de valor, um recorte da cultura e de valores de um tempo. Santos, ex-escravos, nobres, professores, guerreiros, filósofos, políticos, mecenas, monarcas, etc., plasmaram a história, sem contudo romper o fio apostólico que os ligavam ao passado. |
No dia 12 de fevereiro de 2015, da Ilha de Tonga no pacífico sul, em uma viagem de 27 horas, chegou à Roma uma comitiva de católicos para o ver o Papa. Diariamente chegam milhares de pessoas de todos os continentes e países, em média, anualmente, mais de 20 milhões de pessoas. Quem é esta figura com enorme atração, numa época de refração religiosa no mundo ocidental? Será resquício da proeminência do poder Papal, de centenas de anos, no qual o Papa e a sua Igreja foram os protagonistas da história ocidental? É bem verdade que a história dos Papas não corresponde exatamente à do catolicismo, visto que este é sem sombra de dúvida uma realidade muito maior. Diante da liderança moral e da vitalidade desta instituição, uma sorte de perguntas inclui e se exclui nas teses dos intelectuais no mundo contemporâneo. Interrogações para muitas respostas, entretanto, para a Igreja Católica o Papado tem o poder de instituição divina, como o vigário de Cristo e o sucessor do Apóstolo Pedro, a quem Jesus confiou a missão de perpetuar sua palavra até a consumação dos tempos. |
O termo Papa provém do latim “Papa”, e do grego "Pappas", para dizer carinhosamente Pai. O pai espiritual. Esta longa história começa com a morte do apóstolo Pedro, depois Lino, Anacleto, Clemente, e deste último é considerado o primeiro ato pontifício: a epístola de Clemente aos Coríntios. No século II o bispo de Cartago, Cipriano, definiu a Igreja romana como “a igreja principal da qual emerge a unidade do sacerdócio”. No pontificado do africano Melquíades, é promulgado o edito de Milão, no qual o imperador Constantino reconhece a liberdade religiosa aos cristãos, restitui-lhes os bens e constroi basílicas como a de São Pedro (antiga) e ainda promove o primeiro Concílio da cristandade, o de Niceia (325). Em 382 por influência do Papa Dâmaso, Teodósio decretou, no documento “De Fides Catholica”, o catolicismo como religião oficial do império. Nesse Pontificado estabeleceu-se o Canon bíblico quando Jerônimo foi enviado a Jerusalém para traduzir e constituir a Bíblia, chamada Vulgata. No segundo Concílio de Calcedônia (451) se dizia que “Pedro falou com a boca do Papa" e com a queda do império romano e a fuga do imperador para Constantinopla a Igreja foi deixada para traz e o Papado tornou-se o único poder a afrontar os povos bárbaros que ocupavam toda península ibérica. Leão Magno (440-461) enfrentou Átila e o fez retirar-se de Roma, e, além de deixar 96 sermões, reafirmou o primado de Roma sobre todos os outros povos. Em 590, Gregório Magno evangeliza os novos conquistadores e inicia o envio dos missionários para catequizar grande parte da Europa. O Estado pontifício inicia-se com a doação ao Papa o norte de Roma (Sutri) pelo imperador Lombardo Liutpranto. Nesta fase o Papado é defendido pelo rei franco Pepino - o Breve. No ano 800 Leão III coroa Carlos Magno imperador do Sacro Império Romano. A partir dos 900 há o enfraquecimento do poder político da Igreja, e o Papado vive em lutas internas ficando à mercê de facções mais fortes. No Concílio de Reims declarou-se o Bispo de Roma primeiro apóstolo da Igreja Universal (1049). Com o tratado de Worms (1122) o papado assume papel dominante no exercício do poder espiritual na Europa e o ousado Gregório VII (1073-1085) afirma o primado da Igreja e o direito pontifício de destituir o imperador. O Papa mais poderoso da história, Inocencio III, elabora a teoria da “teocracia papal” que atribuía ao Papa o poder temporal e espiritual. Em 1095, com Urbano II, as cruzadas inseriram-se perfeitamente nesse contexto e uniram todos os reinos sob o símbolo da cruz contra o mesmo inimigo, o islã. Novamente com a instabilidade constante na cidade de Roma e para a segurança do Pontífice, em 1309 o Papa Clemente transfere a sede pontifícia para a cidade provençal de Avinhão, fato que durou até 1377 quando Catarina de Siena protagoniza a volta a Roma da Sé Pontifícia . Fruto ainda deste acontecimento, surge um período vergonhoso no qual dois ou três papas disputaram os solos pontifícios fazendo nascer correntes heréticas cismáticas na Europa Central. Certamente a partir destes acontecimentos, nascem os primeiros movimentos da reforma protestante que culminam em 1517 com Paulo III no poder Petrino. Quando parte da Europa deixava de ser católica advém a necessidade da reforma geral na Igreja e este desfecho se dá no no Concílio de Trento. Inicia-se uma nova fase na Igreja e com decretos conciliares definidos reorganizou-se as congregações, a formação de seminários, e a necessidade de fortalecer a figura pontificial. Com a Revolução Francesa (1789) a Igreja de Roma, por não estar preparada para enfrentar os seus efeitos, o poder do Papa aos poucos arrefeceu. O aprisionamento por Napoleão do Papa Pio VII, deu inicio a um período de detenção de pontífices até 1813. O poder papal é restabelecido no fim do período napoleônico com a retomada dos Estados Pontifícios que ocupavam grande parte da Itália central. O papel de guia espiritual do Pontífice Romano é fortalecido pelas casas reinantes da Europa, principalmente dos católicos Habsburgos. As encíclicas anti-liberais de Gregório XVI e Pio IX constroem muros que resultam na derrota de 1870, com a unificação da Itália e o fim do poder temporal dos Papas. No Concílio de Vaticano I (1870), o Papado tenta ainda restabelecer o poder que já era precário, com o dogma da “infalibilidade Papal”. O seu papel político é redimensionado quando com Pio XI (1922-1939), em um acordo chamado de Latrão, afirma-se a soberania da igreja sobre a Cidade do Vaticano, algumas outras Igrejas Pontificiais e uma ampla autonomia da organização eclesiástica em território italiano. Em 1963, no período do Papa João XXIII, acontece uma renovação importante que frutifica até os dias de hoje na Igreja: o Concílio Vaticano II. A insersão de uma Igreja nos problemas do mundo, a abertura para compreensão das outras religiões e uma reforma doutrinal, foi o sentido do último concílio. É a base da Igreja atual. Em 1978, depois de 455 anos, assume um cardeal não Italiano, o polonês Karol Wojtila que adotou o nome de João Paulo II e reinou até 2005 quando da sua morte. É eleito então outro estrangeiro, Ratzinger, com o nome de Bento XVI, refinado teólogo, porém de idade avançada. Abdica em 2012, alegando fadiga para continuar no exercício do cargo Petrino. O voluntarismo do ato foi um fato inédito por mais de 900 anos. No segundo dia e quinto escrutínio do Conclave em 13 de maio de 2013, é eleito o primeiro americano e o primeiro não europeu da história, o argentino Jorge Mário Bergoglio que adota o nome apropriado de Francisco, trazendo a mensagem de cuidar de uma igreja que difunde o ecumenismo e a misericórdia de Deus entre todos. |
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